sábado, 31 de julho de 2010

Palavra Inventada

Vim passar as minhas férias absurdamente longas (de três meses) aqui no Brasil depois de um ano e meio sem cá por os pés. A primeira impressão foi... Ainda não sei a palavra certa para definir a sensação, acho que ela nem existe, mas sei que foi algo nem bom, nem ruim, foi qualquer coisa neutra. Pode ser que isso passe, mas me senti ligeiramente deslocada, uma turista mesmo. Não que isso seja ruim, porque assim posso ver as coisas com outros olhos e avaliar tudo de uma outra maneira. (E lá vou eu falando demais, porque não era nada disso que eu estava planejando postar, enfim...).

Revi a família, amigos - parte deles - , vizinhos, cachorros e companhia. Mas quando entrei na minha casa - a casa em que vivi desde que nasci até aos meus catorze anos - um turbilhão de pensamentos e ideias me passaram pela cabeça ainda não totalmente adaptada à frequência brasileira. Recordei coisas que jamais me haviam passado pela cabeça em terras lusitanas durante esse tempo que em lá estive. Sem fazer esforço nenhum, esses momentos me vieram à memória espontaneamente; minha infância, as brincadeiras que fazíamos em casa, as histórias, os jogos, as comidas, meu pai...

Mas o que realmente me levou a escrever foi lembrar de que eu, quando pequena, adorava inventar palavras. E não eram palavras para aquilo que ainda não existia uma palavra exata, eram palavras que substituíam algumas já existentes. Não consigo me lembrar de todas as que criei, mas numa prosa em família, conseguimos resgatar algumas. Quando eu queria dizer que alguma coisa estava muito alta e eu não era capaz de alcançar, dizia: 'cabade' (hahaha, loucura, loucura, loucura! Não me perguntem de onde foi que eu tirei isso). Morangos também não tinham esse nome, eram os 'capangos' (essa já é mais coerente, está mais próxima da palavra original). E quando uma coisa era suuuper legal, diria até que supimpa, eu costumava dizer que era algo 'boleile' (é... A minha mente era um tanto quanto fértil e muito da maluca também). Pois é, por enquanto foram só essas as que pudemos recordar e rir. É... Recordar é viver! Se entretanto mais palavras me vierem à lembrança, venho aqui compartilhá-las. Não faço a mínima das ideias do porquê dessas invenções malucas, não sei se foi pela sonoridade combinar mais, se por não gostar das palavras originais... Sei lá, ninguém sabe e também não importa muito. Mas não deixa de ser curioso esse meu instinto criador de palavras durante a infância.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Palavra adequada

Ornitorrinco. Para quem considera "orna" a palavra mais desagradável de ouvir, pode parecer muito estranho que escolha ornitorinco como uma palavra legal. De fato, não afirmarei que é bonita, mas ela é totalmente adequada: não dá para ouvir ornitorrinco e pensar em qualquer outra coisa que não um ornitorrinco.
Palavras super adequadas são um achado. Estupefacta (como escrevem os portugueses sim!) é outra dessa categoria - mas fica para outra vez.
De volta ao ornitorrinco. Quando éramos pequenos tínhamos um livro muito grosso e maravilhoso chamado "Mamíferos". A cada página, um animal, por ordem alfabética. Minha mãe lia pra gente à noite. Cada noite um animal. Só pudemos folhear sozinhos depois da primeira rodada até o final, cada noite na cama de um de nós.
Então chegamos ao ornitorrinco. Achei que era um bicho inventado. Não podia acreditar que aquilo existisse de verdade. Para me deixar ainda mais desconfiada, não era uma foto mas uma ilustração. E,  era um mamífero que botava ovos. Então por que não era uma ave que dava leite? Mesmo na ansiedade de chegar ao final do livro, fizemos minha mãe reler e explicar por 3 noites seguidas.
Convenci-me de sua real existência pois seu nome era perfeito para aquela imagem ou vice-versa.