sexta-feira, 22 de abril de 2011

Pra lá de completa

Aprendi essa palavra já adulta, já jornalista, já uma montanha de coisas e, portanto, numa idade considerável para se aprender uma palavra nova.
Sempre fui vidrada em dicionário e enciclopédias. Lia como se fosse um romance. Sim, era uma criança meio estranha.
É bem que se saiba, também, para não me considerarem uma metida, que a leitura sempre foi minha melhor amiga e li bastantinho, desde muito cedo. Ler um livro foi sempre para mim viajar sozinha pelo mundo, entrar em outra esfera, sair desta coisa que é o cotidiano, às vezes, tão difícil para uma criança.
Mas essa é outra história. Vamos à palavra.
E a palavra é: sorumbático.
Além de, mesmo sem saber seu significado, já sentimos no som o espírito da coisa, o que já torna a palavra quase uma onomatopeia.
A frase ouvida foi "Estou sorumbático".
Palavra capciosa: como assistir um tombo esdrúxulo, não tem graça e dá vontade de rir.
Rir pela estranheza e não rir porque o som já indica que não tem graça.
Algumas definições:
"que ou aquele que é sombrio, macambúzio, triste"
"Que ou aquele que é sombrio, carrancudo, tristonho, melancólico, taciturno"
"Retraído, de poucas palavras, indiferente, taciturno, ensimesmado"
Numa palavra só um estado que, em geral, é tão difícil de explicar.
Reúne nela mesma quase uma sessão de terapia inteira!
E, porque não podia de ser mais completa – para seu uso, é claro – em sua definição consta a palavra macambúzio. Precisa mais?

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Palavra que alivia


Outro dia, numa conversa com o meu professor de Português aí do Brasil, falávamos sobre xingamentos perfeitos. Aquelas palavrinhas ofensivas que dão prazer em falar, aquelas que a gente gosta de pronunciar todas as letras claramente, não omitindo nem um som sequer. Não precisam ser necessariamente palavrões (ou asneiras, como se diz aqui em terras lusitana), basta serem xingamentos que nos aliviam ao serem utilizados.


Um ótimo exemplo é “cretino”. De fato, este é um dos melhores xingamentos a se recorrer em certas situações de raiva e fúria. Quando se chama alguém de “cretino” é como se um grande peso caísse das nossas costas e uma enorme sensação de alívio se propagasse sobre nós. “Seu cretino!”, dando especial ênfase na sílaba “ti” e aumentando gradativamente o tom de voz desde o “cre” até “ti”. A sílaba “no” já volta ao tom de voz normal, o mesmo da primeira sílaba. Explicando assim, parece que estou complicando um xingamento tão simples (simples e de grande efeito!), mas na “hora h”, esses “mandamentos” tornam-se um ímpeto, uma coisa automática.

 “Otário” também não fica de fora da categoria “simples e efetivos”. Principalmente quando nos focamos no “tá” e depositamos toda a nossa raiva nessa sílaba. Um dia conheci alguém (não tenho nem a vaga lembrança de quem seja), que me disse que a pior ofensa possível, era ser chamado e “otário”. Talvez precisamente pelo som e pelo tom que o “xingador” lhe xingou. É verdade, um bom “xingador” sabe enfatizar o xingamento, torná-lo ainda mais ofensivo e potente.

Outra palavrinha ofensiva desse grupo, é “salafrário”. Para falar a verdade, eu nem sabia exatamente o que significava ser um salafrário, só hoje é que me dei ao trabalho de me informar. Vivia chamando as pessoas assim e nem sabia ao certo o que era. Mas isso do significado agora não nos interessa muito; foquemo-nos na sua sonoridade e poder ofensivo, digamos assim. “Salafrário” me lembra algum xingamento de antigamente, das novelas de época, quando o léxico dos xingamentos ainda não era tão vasto como nos dias de hoje. O efeito é muito semelhante ao de “otário”, pois há que enfatizar o “frá” e aumentar o tom de voz para valorizar a palavra. Assim a ofensa se torna completa e o “xingador” sente-se pleno e aliviado.

   Ah! Pois é...! Ontem aprendi um novo xingamento. Mas esse não é bem um xingamento. Acho que pouca gente conhece (o que o torna mais interessante), ao menos eu nunca ouvi ninguém dizer, mas acho que vou aderir, embora seja um pouco cruel. A palavra é “pandorga”. Pois é, nem cara de ofensa isso tem! Mas é engraçado e para mim, inovador. Chamar alguém de pandorga (“Ôoo, seu pandorga!”), implica em chamá-lo de “cheinho”, “gordinho”, ou gordo mesmo. Só que como ninguém conhece essa palavra, podem pensar que é algo bem mais elaborado e ofensivo. Quando penso nessa palavra, me vem a imagem de um cachorro labrador gordinho, com aquela pança de cachorrinho bebê, que corre todo desengonçado.

   É claro que os palavrões tem a sua importância e são fundamentais no vocabulário de uma pessoa, ainda por cima hoje em dia. Não consigo me imaginar sem palavrões. No entanto, existem xingamentos que não são palavrões e podem ter grande valor expressivo, provocando enorme sensação de alívio e plenitude. 

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Engraçadas

Quando eu era pequena, mas não tão pequena (uns 10, 11 anos), havia duas palavras que se ouvia sem parar lá em casa. Ouvi pela primeira vez e achei super normal, palavras comuns... Nada de incrível como "guindaste" ou "bombástico", apenas palavras quase insignificantes. Eis que elas começaram a tornar-se ainda mais frequentes no meu dia-a-dia, logo, começo a reparar mais nelas, dando-lhes uma especial atenção.

Primeiramente, apenas a minha mãe usava essas palavra, usava e abusava. Mas depois, foram ganhando tamanha "fama" e reconhecimento do público, que todos lá em casa já as diziam sem mesmo se dar conta. Ahh! Atenção, todos exceto eu. Não sei exatamente porquê, achava estranho, pareciam palavras inventadas, mas acima de tudo, eram muito engraçadas! Para quem as dizia frequentemente, passavam  despercebidas, mas para mim não.

Quanto mais sério era o tom com que a minha mãe ou qualquer um as pronunciava, maior era o nível de graça que elas tinham para mim. Começou aos poucos... Até chegar a um ponto em que estas duas palavras se tornaram extremamente cômicas. Ah é, ainda não disse quais são as palavras! Uma delas é "apoquentar". Me parecia tão estranha e engraçada, que eu jurava que tinha sido inventada pela minha mãe. Até porque, jamais tinha ouvido ninguém além dos membros da  minha própria família usar a tal palavra.

- Ôooo, moleque! Pára de me apoquentar!
- Ai, mãe! Ele tá me apoquentando, tira ele daqui!

Era tão engraçado que eu não conseguia levar a sério um diálogo ou uma frase que contivesse a palavra "apoquentar" no meio. Virava logo motivo de riso. E até hoje, não uso essa palavra, apenas me rio dela. Acho incrível alguém falar "você tá me apoquentando" como se nada fosse... Como se fosse algo super natural! Para mim não é nada natural dizer "apoquentar"!

A outra palavra desse mesmo gênero cômico é "atazanar". Tem o mesmo efeito de "apoquentar". Nunca me passou e acho que nunca irá me passar pela cabeça, construir uma frase com a palavra "atazanar". Não sei... Nada contra a palavra em si, mas a palavra não se aplica a uma frase dita num tom sério. Prefiro mil vezes dizer "pára de me encher o saco" do que "pára de me atazanar". Ahhh não, vocês vão me desculpar, mas "atazanar" não dá!