sexta-feira, 15 de abril de 2011

Palavra que alivia


Outro dia, numa conversa com o meu professor de Português aí do Brasil, falávamos sobre xingamentos perfeitos. Aquelas palavrinhas ofensivas que dão prazer em falar, aquelas que a gente gosta de pronunciar todas as letras claramente, não omitindo nem um som sequer. Não precisam ser necessariamente palavrões (ou asneiras, como se diz aqui em terras lusitana), basta serem xingamentos que nos aliviam ao serem utilizados.


Um ótimo exemplo é “cretino”. De fato, este é um dos melhores xingamentos a se recorrer em certas situações de raiva e fúria. Quando se chama alguém de “cretino” é como se um grande peso caísse das nossas costas e uma enorme sensação de alívio se propagasse sobre nós. “Seu cretino!”, dando especial ênfase na sílaba “ti” e aumentando gradativamente o tom de voz desde o “cre” até “ti”. A sílaba “no” já volta ao tom de voz normal, o mesmo da primeira sílaba. Explicando assim, parece que estou complicando um xingamento tão simples (simples e de grande efeito!), mas na “hora h”, esses “mandamentos” tornam-se um ímpeto, uma coisa automática.

 “Otário” também não fica de fora da categoria “simples e efetivos”. Principalmente quando nos focamos no “tá” e depositamos toda a nossa raiva nessa sílaba. Um dia conheci alguém (não tenho nem a vaga lembrança de quem seja), que me disse que a pior ofensa possível, era ser chamado e “otário”. Talvez precisamente pelo som e pelo tom que o “xingador” lhe xingou. É verdade, um bom “xingador” sabe enfatizar o xingamento, torná-lo ainda mais ofensivo e potente.

Outra palavrinha ofensiva desse grupo, é “salafrário”. Para falar a verdade, eu nem sabia exatamente o que significava ser um salafrário, só hoje é que me dei ao trabalho de me informar. Vivia chamando as pessoas assim e nem sabia ao certo o que era. Mas isso do significado agora não nos interessa muito; foquemo-nos na sua sonoridade e poder ofensivo, digamos assim. “Salafrário” me lembra algum xingamento de antigamente, das novelas de época, quando o léxico dos xingamentos ainda não era tão vasto como nos dias de hoje. O efeito é muito semelhante ao de “otário”, pois há que enfatizar o “frá” e aumentar o tom de voz para valorizar a palavra. Assim a ofensa se torna completa e o “xingador” sente-se pleno e aliviado.

   Ah! Pois é...! Ontem aprendi um novo xingamento. Mas esse não é bem um xingamento. Acho que pouca gente conhece (o que o torna mais interessante), ao menos eu nunca ouvi ninguém dizer, mas acho que vou aderir, embora seja um pouco cruel. A palavra é “pandorga”. Pois é, nem cara de ofensa isso tem! Mas é engraçado e para mim, inovador. Chamar alguém de pandorga (“Ôoo, seu pandorga!”), implica em chamá-lo de “cheinho”, “gordinho”, ou gordo mesmo. Só que como ninguém conhece essa palavra, podem pensar que é algo bem mais elaborado e ofensivo. Quando penso nessa palavra, me vem a imagem de um cachorro labrador gordinho, com aquela pança de cachorrinho bebê, que corre todo desengonçado.

   É claro que os palavrões tem a sua importância e são fundamentais no vocabulário de uma pessoa, ainda por cima hoje em dia. Não consigo me imaginar sem palavrões. No entanto, existem xingamentos que não são palavrões e podem ter grande valor expressivo, provocando enorme sensação de alívio e plenitude. 

Um comentário:

  1. Bela e profunda análise das nossas "palavras ofensivas". Pandorga eu não conhecia, gostei kkkk. Se me chamassem disso eu ficaria confuso, eu ia pensar em uma PIPA (pandoga).
    Dessas citadas no texto, a que eu mais gosto de pronunciar é 'OTÁRIO'. E a que mais ouço é 'CRETINO', mas nem sou, quero deixar isso bem claro! kkkkkkk
    Bom texto Lice, ou melhor, OUTRO BOM TEXTO!
    Quando lançar um livro quero o primeiro exemplar autografado, pq sou seu fã nº1 haha
    Bjus

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